

MUDANÇAS CLIMÁTICAS x FLORESTA EM PÉ
"O homem chega, já desfaz a natureza
Tira a gente, põe represa
Diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia
Vai subindo devagar
E o passo a passo vai cumprindo a profecia
Do beato que dizia
Que o sertão ia alagar
O sertão vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão"

O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão.
Antônio Conselheiro - fim do século XIX


As mudanças climáticas são um dos principais desafios da atualidade. Para essa temática, as cidades são as principais causadoras e também protagonistas de sua solução.
Metade da humanidade está concentrada nos centros urbanos. Atualmente, estima-se que 7 bilhões de pessoas vivem em cidades. Esse panorama de concentração está vinculado ao crescimento populacional e deve aumentar nas próximas décadas.
Não diferente de outros países, o Brasil segue essa tendência. Comparado com os outros países da América Latina, é uma das nações mais urbanizadas, concentrando 86,53% de sua população em áreas urbanas.
A ocupação e o desenvolvimento das cidades aglutinam as emissões mundiais de gases causadores do efeito estufa, contabilizando de 37% a 49% das emissões mundiais de gases, principalmente vinculadas ao transporte, consumo de energia e geração e disposição de resíduos sólidos, o que implica fortemente nas mudanças climáticas que, por sua vez, geram uma série de impactos danosos. Os estudos mais recentes descrevem que as áreas urbanas serão as que mais sentirão o impacto negativo.
O cenário apresentado descreve que a administração municipal tem o papel fundamental de organizar e incentivar ações para que a cidade encontre as respostas para esse desafio climático. Nessa perspectiva, a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e o preparo para os impactos das alterações do clima são essenciais para a resiliência das áreas urbanizadas.
Vale salientar que as cidades são movidas por pessoas. Essas interações sociais são provedoras de impactos e soluções que acabam trazendo consequências benéficas, como uma cidade mais próspera, sustentável, competitiva e inclusiva.
Fonte: ICLEI, 2016.

Correlação com a floresta
As mudanças climáticas estão presentes no dia a dia: chuvas intensas, ondas de calor, ausência de chuva, recorde de frio, enfim, um cenário vivido em todo planeta, por todos os continentes.
Aprendemos logo cedo que as florestas captam o CO2 (Dióxido de Carbono) da atmosfera para fazer a fotossíntese. O gás carbono também fica estocado nas árvores ou é fixado no solo pelas raízes. A floresta capta e armazena o gás carbono.
Vale destacar que quando uma árvore morre, no processo de decomposição a mesma libera o carbono que estava armazenado na atmosfera. É por isso que no Brasil a derrubada de florestas, sobretudo na Amazônia, é uma das maiores responsáveis pela emissão de GEE.
No nosso planeta, além da floresta em pé, outro sumidouro de carbono são os Oceanos. Um dado alarmante é que a absorção de carbono pelos oceanos é muito alta, isso tem provocado a acidificação dos mares, o que leva a fenômenos de branqueamento dos corais de recife, que afetam a sobrevivência da vida marinha e podem, por sua vez, prejudicar atividades como pesca e turismo.
Esse cenário de desmatamento, emissões desenfreadas afeta as relações com a terra, causando muitos desastres climáticos.
Fonte: ICLEI, 2016.
Mudanças climáticas e seus efeitos
Agora vamos avaliar o que as mudanças climáticas provocarão na Mata Atlântica, bioma que compreende o território andreense.

VOCÊ SABIA?
Santo André está em processo de construção do Inventário Municipal de GEE. O Consórcio Intermunicipal do Grande ABC fez em 2016 o primeiro Inventário Regional de Gases de Efeito Estufa (GEE) medindo as emissões das sete cidades do Grande ABC. Acesse o documento na íntegra.

As fontes de emissão estão vinculadas à energia estacionária, transportes, resíduos, processos industriais e ao uso de produtos (IPPU), à agricultura, florestas e outros usos do solo (AFOLU), além de outras Emissões Indiretas.
Conheça os dados regionais de GEE
Emissões totais de toneladas de CO² e desagregadas por município:

Mas o que a comunidade internacional está fazendo para lidar com os atuais níveis de gases de efeito estufa e com a mudança climática?
Acordo de Paris
Assinado por 195 países durante a COP21, o Acordo de Paris é um tratado mundial que possui um único objetivo: reduzir o aquecimento global.
O Acordo substitui o Protocolo de Kyoto e para começar a vigorar, 55 países que representam 55% das emissões de gases de efeito estufa precisavam ratificá-lo. Isso aconteceu em 4 de novembro de 2016. Até junho de 2017, 195 países tinham assinado o acordo e 147 destes, entre eles o Brasil, o ratificaram.
Os maiores vilões de emissões dos gases de efeito estufa (GEE) são a queima dos combustíveis fósseis e o desmatamento das florestas, uma vez que elas são as responsáveis por renovar o oxigênio.
Principais pontos do Acordo de Paris






Mas você sabe o que são Créditos de Carbono?
É a representação de uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida para a atmosfera, contribuindo para a diminuição do efeito estufa.
Precisamos neutralizar o carbono. Mas como?
Não é simples, nem trivial a neutralização do carbono, ouvimos falar muitas coisas a respeito, mas quais ações podem neutralizar o carbono? O uso mais adequado dos recursos naturais, ampliar o plantio de árvores, evitar o consumo desmedido ou de atividades geradoras de muitas emissões …enfim, ações mitigadoras podem captar, absorver e neutralizar as emissões de GEE que emitimos diariamente. Pensando nisso, como curiosidade, realizamos uma conta para o município de Santo André considerando algumas relações entre plantio de árvores x captura de GEE.

Vamos calcular nosso impacto e a relação com as árvores de Santo André?
Segundo o Inventário Regional de Emissões de Gases do Efeito Estufa, realizado em 2016, cada pessoa no município de Santo André gera por ano 4,52 toneladas de CO2, ou seja, 4.520 kg de gás carbônico.
De acordo com The Nature Conservancy, cada habitante do planeta gera em média 4 toneladas de CO2 por ano, assim sendo, o município andreense está na média mundial (Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, 2016).
Agora vamos avaliar os dados municipais no horizonte do ano de publicação do Inventário GEE:

É sabido que as árvores absorvem o carbono, isso já foi apresentado neste curso. Assim sendo, uma árvore absorve 150 kgs de CO2 por ano. Com essa informação podemos verificar quantas árvores temos que ter no território para absorver o carbono gerado pelos andreenses.
Vamos conferir?

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Dentro da temática da restauração florestal e compensação de emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE), o Instituto Brasileiro de Florestas (IBF) trabalha com as seguintes indicações e métricas:
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Indicação de plantios com espaçamento 3 m x 2 m. Assim, realiza-se o plantio de 1.666 mudas por hectare;
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Para realizar a compensação de 1 tonelada de GEE, faz-se necessário o plantio de 7,14 árvores, que realizarão o processo de compensação em um período de 20 anos.
Adendo: Em termos de cálculo das emissões de GEE, a organização deve:
Identificar fontes de emissão > Escolher a abordagem de cálculo > Coletar dados e escolher fatores de emissão > Aplicar ferramentas de cálculo > Compilar dados no nível corporativo.
Em relação a métrica acima, podemos fazer a seguinte progressão:
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Se emitimos 3.211.488.000 kgs de CO2 em 2016, para neutralizar as emissões de gás carbônico precisaríamos de 21.400.994,67 árvores em Santo André. Temos em nosso território 18.385.697,44 árvores. Deste modo, precisaríamos plantar 3.015.297,22 árvores para neutralizar o carbono emitido em 2016.

Considerando que nosso território compreende 174.800.000 m², onde 127.000.000 m² correspondem à área de proteção ambiental, 47.800.000 m² correspondem à área urbana. Onde vamos inserir as três milhões de árvores? Qual sua sugestão?
Vale ressaltar aqui, que uma cidade possui muitas demandas para atender no seu território, como moradia, equipamentos de saúde, educação, infraestrutura urbana, mobilidade. Deste modo, sabendo que as áreas existentes para plantio ou de parques na cidade não serão suficientes, é possível constatar que neutralizar o carbono só com o plantio não é o caminho.
Para tanto, outras ações de mitigação e intervenções sustentáveis podem atender essa métrica e neutralizar o carbono emitido a médio e longo prazos. O município de Santo André está se planejando com algumas ferramentas de gestão pública apoiadas nas questões ambientais e nos objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS), como já podemos observar no atual Plano de Metas, na Revisão do Marco Regulatório de Santo André que se encontra em elaboração e também nas diretrizes do Programa Santo André 500 anos, que é o planejamento a longo prazo da cidade até 2053 quando completaremos 500 anos.
Veja algumas soluções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa

VOCÊ SABIA?
Atividades do dia a dia emitem direta ou indiretamente gases causadores das mudanças climáticas.
Use a calculadora para descobrir sua pegada de carbono e quantas árvores precisa plantar para compensar
suas emissões. Acesse a calculadora!
Referências
CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL DO GRANDE ABC, 1º Inventário Regional Emissões de Gases de Efeito Estufa do Grande ABC, ICLEI, Santo André, 2016, p. 44.
ICLEI; Programa Cidades Sustentáveis, Guia de Ação Local pelo Clima. São Paulo, Brasil, 2016. p.96, ISBN 978-85-99093-29-0.